Futebol: Tal como Francisco Stromp gostaria (4x2)
«Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. Eis o Sporting». Este é o lema do clube, imortalizado em mais de um século de existência. No fim de semana em que os leões os 106 anos da mítica camisola bipartida, a equipa apresentou-se a rigor na vestimenta e na atitude, brindando os adeptos com uma vitória sobre um Marítimo que parecia presa fácil, mas que teve uma gazela (Maazou) empenhada em fazer o leão correr.
Não foi apenas um dos fundadores no papel. Stromp foi, nos princípios do século XX, exemplo a toda a largura de um clube eclético. No futebol, capitaneou, treinou e foi também dirigente no clube de José Alvalade. Ficou eterno ainda como o sócio número 3. Atualmente, já praticamente ninguém pode dizer que privou com ele, mas muitos são aqueles que continuam a tirar dividendos da obra de Stromp.
Primeira parte demolidora
Na transposição para a partida desta noite, digamos que a Nani só faltou bigode para se assemelhar à mítica figura. Quanto à atitude, à presença, à influência e à alma, nada ficou a dever. E, na qualidade técnica, é certamente mais evoluído. Começa a parecer repetitivo o elogio ao número 77, mas não o é por qualquer exagero.
Nani está, cada vez mais, num momento de forma soberbo, como há muitos anos não se via, e é o rosto de um leão que, tal como Marco Silva referia antes do jogo, está cada vez mais confiante e a progredir na qualidade de futebol apresentada.
O Marítimo sempre pareceu débil na primeira parte, nomeadamente naquele auto-golo de Bauer, mas a sensação que deu é que os méritos leoninos eram muito mais avolumados do que as debilidades dos madeirenses.
O Sporting não precisava de uma avalanche ofensiva para massacrar o adversário. Longe disso. Aproveitava os erros dos adversários com uma boa pressão e depois fazia valer a qualidade de posse, ora em transições rápidas, ora em jogo apoiado.
Ao intervalo, os 3x0 não pareciam exagerados. Eram, sim, reflexo de um enorme leão, cavalgante no campo e entusiasmante numa bancada que vibrava com o futebol apresentado pelos de Marco Silva e que já nem sequer colocava em causa a vitória, calculando que o sofrimento fosse guardado para outros compromissos. Totalmente errado.
Maazou acordou jogo
Leonel Pontes não gostou mesmo do que viu nos primeiros 45 minutos de regresso a Alvalade, uma casa que bem conhece. Ao intervalo, fez uma substituição mas nem foi isso que melhorou a equipa. Terá sido a sua mensagem, o seu puxão de orelhas e Maazou.
O avançado do Níger está a conseguir, no Marítimo, evidenciar ao máximo as suas qualidades e voltou a demonstrar potência e capacidade de explosão, o suficiente para ameaçar a defesa do Sporting de um naufrágio a arrancar a segunda parte.
Marcou um, marcou dois e fez abanar todo o estádio, devolvendo a tal emotividade e incerteza no marcador que parecia já não vir a existir depois do descanso. Num ápice, o Sporting viu-se realmente ameaçado e a intranquilidade passou da equipa para as bancadas.
Só uma pessoa parecia indiferente a tudo isso. João Mário. Aos pouquinhos, o médio conseguiu devolver à equipa a serenidade e a intenção de atacar, mais do que defender a magra vantagem de 3x2.
Durou 20 minutos a pedalada do Marítimo. O Sporting reergueu os pergaminhos e retomou a homenagem a Stromp, com o momento da noite. Ao passe longo de Adrien correspondeu Montero com aquele típico golo que se deseja marcar: matar de peito e rematar à meia volta.
Era o regresso à tranquilidade e era a facada a um Marítimo que estava ameaçador. Os minutos seguintes foram dos leões, que ainda piscaram o olho ao quinto tento, mas que viram Maazou constantemente frenético. Uma verdadeira força da natureza que destruiu Jonathan Silva, com os seus movimentos da direita para o meio. Talvez por isso Marco Silva optou por tirar o argentino e conceder a estreia a Miguel Lopes esta época, para dar experiência a uma defesa que continua a não dar certezas absolutas.