Futebol: Fernando Gomes: «Só FC Porto, Benfica e Sporting juntos podem potenciar o desenvolvimento do futebol português»

Fernando Gomes é esta sexta-feira destaque e manchete do jornal O Jogo por força de uma extensa entrevista em que faz o balanço de três anos à frente da Federação Portuguesa de Futebol. Desde a relação com a Liga até à reestruturação do organigrama do desporto-rei do nosso país, passando pelo trabalho que tem vindo a ser feito na seleção nacional até chegar a Cristiano Ronaldo e Pedro Proença, o líder máximo da FPF aceitou analisar tudo o que envolve a atualidade do futebol português e só se escusou a tecer comentários sobre o tema Paulo Bento.

Matéria inevitável e premente na conversa do citado desportivo com o maior dirigente da Federação é a aparente normalização das relações entre o referido organismo e a Liga Portugal, desde outubro presidida por Luís Duque. Sem entrar em pormenores, Fernando Gomes admitiu que «há uma nova forma de relacionamento com o atual presidente, que é muito mais próxima e dialogante no sentido da resolução de problemas» e salientou a presença de Duque «em todas as reuniões da direção da Federação desde que assumiu o cargo».
 

©FPF/Diogo Pinto
 

Seguiu-se a questão sobre a alegada aliança entre FC Porto e Benfica, que o líder da FPF diz desconhecer por completo. «Não faço a mínima ideia. Aquilo a que assisti foi à criação de um grupo de trabalho em que estavam representados FC Porto, Benfica e Sporting. E sei que (…) a partir daí houve uma série de reuniões, sempre com os três clubes envolvidos, pelo que não tenho qualquer conhecimento de nenhuma aliança contra ou a favor seja de quem for», vincou, não sem deixar de repetir o apelo ao entendimento entre dragões, águias e leões.

«O que faz sentido para o futebol português é existir uma plataforma de entendimento entre os três grandes clubes que são responsáveis por massas associativas consideráveis. Creio que só FC Porto, Benfica e Sporting juntos podem potenciar o desenvolvimento do futebol português», reforçou o dirigente a O Jogo.

Paços de Ferreira, Académica e Rio Ave querem criar equipas B

Há uns tempos, também com a competitividade em mente, os organigramas do futebol português foram renovados e readequados, o que permitiu a recuperação das equipas B, um projeto que o presidente da FPF aplaude e apoia. «Por parte da Federação, faremos o que for possível no sentido de proteger a continuação e até o alargamento do número de equipas B. Aliás, já fomos contactados por várias equipas do primeiro escalão que pretendem implementá-las (...). Estou a falar do Paços de Ferreira, da Académica e do Rio Ave», confidenciou Fernando Gomes.

«Não se pode fazer a renovação deitando fora uma geração para usar outra»
 

©Francisco Paraíso/FPF
 

Entretanto, outro Fernando - Santos de apelido -, surgiu no discurso. A análise do dirigente federativo ao trabalho do selecionador nacional foi breve, mas positiva, e teve várias chamadas aos objetivos a cumprir a curto/médio prazo. «Sempre disse que não devemos analisar as prestações apenas pelos resultados, mas os resultados são muito importantes. E aquilo que é concreto é que temos dois jogos [oficiais], duas vitórias e seis pontos, o que não deixa de justificar um primeiro balanço positivo ao trabalho que tem sido realizado», afirmou.

«Aquilo que sinto é que o apuramento para o Europeu de 2016 é muito importante. Hoje está mais fácil, mas, ainda está muito longe de garantido, até porque o próximo jogo, com a Sérvia, é muito complicado», alertou o economista que orienta os destinos do futebol luso, referindo-se de seguida à tão propalada renovação da equipa das quinas.
 

©Catarina Morais
 

«Não podemos partir para a preparação de um futuro radioso sem que antes tratemos de acautelar o presente. Seria extremamente negativo que uma seleção como a portuguesa não estivesse presente no próximo Europeu. Não se pode fazer a renovação deitando fora uma geração para usar outra», apontou.

«Cristiano fez uma temporada fantástica»

Sem se desligar da seleção nacional portuguesa, Fernando Gomes aproveitou igualmente esta entrevista a O Jogo para 'atribuir' a Bola de Ouro à figura máxima das quinas, Cristiano Ronaldo.

«Acho que a participação numa determinada competição não deve ser determinante para a atribuição de um título como a Bola de Ouro», começou por considerar, contrariando abertamente a opinião de Michel Platini, líder da UEFA.

«Trata-se de um prémio atribuído pelo desempenho ao longo de uma época e em 2014, tirando aquele curtíssimo período em que foi condicionado por uma lesão, o Cristiano fez uma temporada fantástica. A Bola de Ouro só pode ser para ele», justificou o dirigente que há três anos substituiu Gilberto Madaíl.

Proença «ainda tem muito para dar à arbitragem»

Sem meias palavras, Fernando Gomes fez ainda a defesa pública de Pedro Proença, afastado da final do Mundial de Clubes por supostas pressões do San Lorenzo e da Federação Argentina junto da FIFA. «[Analiso] De forma muito crítica. Aquilo que se deve valorizar é a competência e, nesse sentido, não posso deixar de repudiar que o melhor árbitro presente no Mundial de Clubes não tivesse sido nomeado para apitar o jogo mais importante. Trata-se de uma decisão lamentável», censurou.


Decisão que também não agrada ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol é a eventual despedida antecipada do juiz. «Quando estamos a falar de um árbitro que é considerado de forma unânime como um dos melhores do mundo, a perspetiva de vê-lo antecipar a saída é algo que vemos com apreensão. (…) Espero que Pedro Proença reflita, que perceba que ainda tem muito para dar à arbitragem e que reconsidere a saída», rematou Fernando Gomes.